'Tive a sensação de estar dentro do livro': artista mineiro percorre mais de 3 mil quilômetros para conhecer legado de Guimarães Rosa

Natural de São Tomé das Letras (MG), Luiz Gilmar fez residência artística e visitou comunidades, parques e eventos ligados à obra do escritor, conectando a...

'Tive a sensação de estar dentro do livro': artista mineiro percorre mais de 3 mil quilômetros para conhecer legado de Guimarães Rosa
'Tive a sensação de estar dentro do livro': artista mineiro percorre mais de 3 mil quilômetros para conhecer legado de Guimarães Rosa (Foto: Reprodução)

Natural de São Tomé das Letras (MG), Luiz Gilmar fez residência artística e visitou comunidades, parques e eventos ligados à obra do escritor, conectando arte, memória e tradição. A riqueza da obra de João Guimarães Rosa (1908 - 1967) ganhou vida em uma profunda e extensa jornada cultural que percorreu mais de 3 mil quilômetros pelo sertão mineiro. 📲 Participe do canal do g1 Sul de Minas no WhatsApp Luiz Gilmar de Castro Furtado, artista e produtor cultural de São Tomé das Letras (MG), deu vida a um projeto que une literatura, arte, educação e história, aproximando as novas gerações das raízes e tradições do sertão brasileiro. Luiz Gilmar (à direita) percorreu mais de 5 mil quilômetros para conhecer legado de Guimarães Rosa. Na foto também estão Dora e Gabriel Guimarães, primos de Guimarães Rosa Arquivo pessoal Início da jornada A viagem começou com a contemplação da residência artística oferecida pela Lei Paulo Gustavo no Museu Casa Guimarães Rosa, em Cordisburgo (MG), cidade onde nasceu o autor. Lá, Luiz Gilmar participou de seminários e promoveu debates com jovens narradores locais, conhecidos como Miguilins, que mantêm viva a tradição oral das histórias do sertão. "Essa bolsa, na verdade, eu ampliei ela. Era só para ir à Cordisburgo fazer residência no Museu Guimarães Rosa. Aí eu consegui apoio com algumas empresas, coloquei meu dinheiro e aumentei essa travessia. Foram quase 40 dias viajando por todas essas cidades", contou o artista. O contato com os familiares de Guimarães Rosa foi essencial para que Luiz entendesse a essência do escritor. "Eu conheci a prima do Guimarães Rosa, a Dora Guimarães, que é uma das organizadoras do grupo Miguilin, e também conheci o Gabriel Guimarães, outro primo, num grau de parentesco menor, mas ele é responsável por atualizar a genealógica da família. (...)" "Eles contaram as curiosidades que ouviam da família, que ele [Guimarães] era um menino muito inteligente, gostava de ficar dentro do quarto lendo, desde pequeno ele tinha esse lado literário". Cavalgada Cultural 'Grande Sertão Veredas' Um dos momentos mais marcantes da jornada foi a participação na tradicional Cavalgada Cultural Grande Sertão Veredas, em Buritizeiro. Por três dias, Luiz percorreu a pé e a cavalo cerca de 95 km, passando por fazendas, cerrados e rios que inspiraram episódios e personagens de um dos romances mais importantes da literatura brasileira. Ele relembrou a emoção e o desafio de vivenciar os mesmos caminhos que Guimarães Rosa trilhou. “Foi emocionante e desafiador cavalgar por lugares que Guimarães passou há 70 anos, perceber o quanto o cenário mudou e, ao mesmo tempo, continua imortalizado em suas palavras. (...) Tive a sensação de estar dentro do livro Grande Sertão: veredas”, afirmou Luiz. Na cavalgada 'Grande Sertão Veredas', Luiz percorreu a pé e a cavalo cerca de 95 km em Buritizeiro (MG). Arquivo pessoal Adquirindo experiências e compartilhando conhecimento Além da cavalgada, Luiz Gilmar visitou o Parque Nacional Grande Sertão Veredas, na Chapada Gaúcha Mineira, conhecido por sua biodiversidade única. Nesse espaço, promoveu um seminário com professores e alunos, discutindo a relação entre a literatura de Guimarães Rosa e a conservação ambiental do cerrado. A Gruta de Maquiné, importante marco da paleontologia brasileira, também foi parada marcada em seu roteiro. A jornada ainda contemplou encontros com comunidades quilombolas e grupos culturais, como o Estrela do Sertão, formado por bordadeiras que reproduzem frases do escritor em suas artes têxteis. Em Andrequicé, vila associada ao personagem Manuelzão, Luiz participou de projetos comunitários envolvendo teatro, dança cigana, folias de reis e pastorinhas, promovendo diálogos sobre conflitos na adolescência e o combate ao bullying, temas inspirados nas obras do autor. Luiz Gilmar realizou seminários sobre a literatura de Guimarães Rosa e a conservação do cerrado. Arquivo pessoal Uma 'vivência transformadora' O encerramento da jornada aconteceu em Belo Horizonte, no Palácio das Artes, onde Luiz Gilmar assistiu uma adaptação operística do conto "A Hora e a Vez" de Augusto Matraga, que trouxe para os palcos a intensidade e complexidade das histórias de Guimarães Rosa. E não vai parar por aí: Luiz Gilmar pretende continuar falando sobre João Guimarães Rosa e seu legado para a população de São Tomé das Letras. "A Câmara dos Vereadores me convidou para explanar o projeto (...) e nós vamos fazer um seminário aberto à comunidade também, além das escolas de São Tomé". Para o artista mineiro, essa experiência representa muito mais do que uma homenagem literária. É um convite à valorização da cultura local, ao fortalecimento das tradições e à reflexão sobre o papel da arte na construção da identidade regional. “Percorrer os sertões, conhecer as comunidades e os cenários que inspiraram Guimarães Rosa foi uma vivência transformadora, que reforça a importância de preservar e difundir esse patrimônio cultural tão rico”, concluiu. Artista mineiro percorre mais de 3 mil quilômetros para conhecer legado de Guimarães Rosa Veja mais notícias da região no g1 Sul de Minas

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